terça-feira, 24 de maio de 2011

ENTENDA COMO A IGREJA PROCLAMA UM SANTO? O QUE É BEATO?


Irmã Dulce dos Pobres, a caminho da canonização

No dia da festa de irmã Dulce em Salvador recebi perguntas sobre beatificação e santificação. O que é ser santo? O que é um santo?

Sobre o adjetivo santo, e sobre o substantivo santidade, não existe muita divergência entre cristãos. Quanto ao substantivo santo, é uma palavra que tem significado variado, já nos textos bíblicos. Paulo chama os cristãos de santos, mas também reclama da falta de santidade em muitos cristãos. Pedro faz um apelo aos cristãos: Tornai-vos santos em todo vosso comportamento.

A igreja católica chama de santos alguns cristãos que viviam tão bem que se pode ter certeza que estão com Deus na vida eterna. O julgamento cabe a Deus, mas vendo a firmeza deles até a morte no caminho apontado por Jesus, a Igreja os declara como santos e os apresenta como exemplo para todos. Muitos criticam a Igreja por achar que pode santificar alguém.

As palavras beatificação e santificação podem ser mal entendidas, mas quem quiser criticar a Igreja deveria primeiro adquirir um pouco de conhecimento histórico.

Desde os primeiros séculos do nosso calendário surgiu na Igreja a devoção aos mártires, aos cristãos que foram mortos nas perseguições por professar sua fé. Outros cristãos que se destacaram pela santidade de vida também tiveram seus túmulos visitados e eram chamados de santos pelo povo cristão.

Mais tarde, a Igreja passou a fazer declarações oficiais sobre a santidade de pessoas já chamadas de santas na devoção popular.

Na realidade, a pessoa se torna santa com a vida que leva na terra, deixando-se conduzir pela graça de Deus.

A procura da santidade, o esforço sincero de resistir às tentações do pecado e de organizar a vida de acordo com os ensinamentos de Jesus, é vocação de todo cristão. Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito, disse Jesus.

O Papa que fez o número maior de canonizações foi João Paulo II. Com isso, temos santos cuja vida podemos conhecer melhor. Todos se destacaram pela perfeição de sua vida cristã. Árvore boa se conhece nos frutos. Num tempo de tanta propaganda negativa do lado ruim, dos frutos podres de escândalos, é importante mostrar também o lado bom, fazer brilhar a santidade de muitos.

Quem ainda caminha nas dificuldades da vida terrena pode recorrer aos santos que podem ajudar-nos com suas preces junto a Deus. Algum cristão quer negar que possamos fazer pedidos a Deus em favor de outras pessoas? Cremos que tal possibilidade não termina com a morte. Nesta terra podemos rezar pelos mortos. Na presença de Deus, os santos podem pedir por nós, ainda mortais. Cremos na comunhão dos santos.

Cremos também na Igreja que tem a sua origem na chegada do apóstolo Pedro em Roma e é dirigida por seus sucessores com a missão de confirmar os irmãos na fé.

A canonização de alguns entre os santos que surgiram em quase vinte séculos de história da Igreja, é sua inscrição oficial no cânon, na lista dos santos.

Antes da declaração da santidade de alguém, a Igreja organiza um processo para examinar com cuidado sua vida e suas obras. O processo tem um investigador que era chamado de advogado do diabo, com a tarefa de achar defeitos nos escritos ou nas ações do candidato.

Neste domingo tivemos em Salvador a festa de beatificação da irmã Dulce, admirada por católicos e por outros cristãos, e até por ateus. Ela recebeu da Igreja o título de bem-aventurada irmã Dulce dos pobres. Todos que a conheciam, esperam que não demore o processo de canonização, para poder chamá-la de Santa.

Nem sempre a devoção popular leva à declaração de santidade. O padre Cícero, por exemplo, tem fama de santidade, mas (ainda) não foi canonizado, por causa de algumas posições controversas que tomou diante de problemas do seu tempo.

Recebi ainda a seguinte pergunta: Será que é salutar fazer questionamentos, críticas, indagações, ter dúvidas? Acho que a curiosidade é a raiz da árvore do progresso. Questionamentos são importantes. Oferecem ocasião para explicações.

No tempo de escolher o meu caminho, antes de embarcar na aventura de ser padre, passei um tempo procurando seguir o conselho do apóstolo Paulo: Examinai tudo, guardai o que for bom! O bem-aventurado Papa João Paulo II costumava dizer aos jovens: Não tenham medo! Não tenham medo da verdade!

Mais um pensamento para pensadores

Ainda sou um questionador. Quanto à confusão de alguns que comparam os santos da Igreja com os ídolos dos pagãos, pode ser causada pela falta de conhecimento, ou pela vontade de encontrar alguma coisa a criticar na igreja católica que tem nos seus santos a sua maior riqueza.

Quanto à existência histórica dos nossos santos na sua vida terrena, não existe nenhuma dúvida: É questão de ciência histórica. Quanto à continuação de sua vida na glória celeste, aí sim, é questão de fé. Quanto aos ídolos dos pagãos, não existe nenhuma prova racional da sua existência, nem no passado, nem no presente.

Minha pergunta a certos devotos de um santo qualquer entre milhares, é outra: Por que será que muitos escolhem um santo quase desconhecido? Que lições para nossa vida podemos tirar de um santo, se não sabemos quase nada da sua vida na terra?

Fiz essa pergunta por achar que os santos não fazem questão de cantos de louvor nem de cantadas de pedidos. Preferem ser seguidos no caminho da santidade. Querem animar-nos a seguir o seu exemplo: passar pela vida fazendo o bem.

Colocando o problema no dilema da existência cristã: Pedir a Deus que venha fazer a nossa vontade, ou fazer a vontade de Deus na nossa vida? Ser pidões ou ser obedientes? Ser pedintes que esperam que Deus venha resolver nossos problemas, ou ser colaboradores de Deus na construção do seu Reino?

Sei que sem Deus nada podemos, mas vejo que Deus quer depender da nossa colaboração na realização do seu plano de amor. Não quer encher-nos de esmolas caídas do céu. Deu o ponto de partida e deixou para nós a escolha do caminho na construção de nós mesmos e de um mundo melhor.

Deus faz questão de contar com nossa colaboração na liberdade do esforço pessoal, e na solidariedade corresponsável da humanidade embarcada no mesmo barco, dependendo todos da boa vontade de todos. Recebemos a missão de cuidar da terra que Deus nos deu por morada.

Para quem prefere ser pedinte dependente parado a esperar de Deus saúde e prosperidade, que diferença faz pedir diretamente a Deus ou recorrer à ajuda de santos e anjos? Alguns já não se limitam a pedir. Passam a exigir. Chegam a dizer que Deus tem obrigação de atender aos nossos pedidos, contanto que saibamos pedir na igreja certa. Outros recorrem a promessas de mercador esperto: Senhor, se me dais um milhão, lhe dou um real. Ou assim: Meu santo das causas perdidas, se meu pedido for atendido, vou mandar imprimir muitos santinhos com seu retrato. Outros chegam a fazer ameaças veladas: Fulano não fez o que dizemos que era para fazer por sete dias para obter a cura de um parente doente, e no oitavo dia sua sogra morreu.

Desculpem a brincadeira, que a coisa é séria. Precisamos ter a coragem de apresentar ao mundo de hoje as exigências reais do caminho apontado por Jesus e seguido pelos santos.

O céu ainda tem vaga para você, mas para lá chegar precisa subir. Caminhando com os próprios pés. Saindo do marasmo do comodismo da mediocridade do egoismo.

Se os santos conseguiram, será que você não pode também?

postado pôr: +D. Cristiano Krapf - www.domcristiano.com.br

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